segunda-feira, 23 de março de 2009

Predadora




Toda vez ela arrastava algum bêbado da boate.
Lauro era escritor, costumava sair para beber e voltar de madrugada para só então, começar a escrever, escrevia até o sol nascer, depois dormia, essa era sua vida; passava parte da noite rondando pelos bares e boates, inspirando-se, a madrugada escrevendo e o dia dormindo.
Havia algum tempo, acompanhava as aparições daquela morena, nas noites de sexta, era alta, cabelos longos, boca vermelha, seios naturalmente fartos, cintura fina, quadris largos, nunca lhe faltavam roupas pretas e os enormes óculos escuros.
Naquela noite ela chegou tarde como sempre, passou sem vê-lo como sempre, dirigiu-se ao bar como sempre. O vestido negro, ajustado até o quadril e solto para baixo, desenhava-lhe as curvas provocantes , o decote generoso e um corte na saia, pelo qual via-se uma das coxas completavam sua figura. E, como sempre, passados alguns minutos, saiu acompanhada de um cambaleante rapaz. Lauro resolveu segui-la!
Saltaram do táxi em frente a um destes prédios de classe média, com quatro andares e sem elevador. Entraram. Ele também deixou o táxi, esgueiro-se pelas sombras e ficou a espreita. As luz de um dos apartamentos do quarto andar acenderam-se, eles dançaram, depois veio a penumbra e finalmente a escuridão e o silêncio. Passadas mais de duas horas, a porta do prédio abriu-se e o rapaz saiu, orientando-se com a bengala branca , subiu no táxi e foi embora.
Ele não era bêbado…Era cego!
Será que eram todos assim?
Neste momento notou que a porta do prédio estava apenas encostada.
Resolveu entrar.
Subiu os quatro andares, lentamente, indeciso, sem saber o que dizer, que desculpa daria, afinal ela não o conhecia.
Atraído pela curiosidade e pelo desejo, continuou, será que ela tinha algum defeito, talvez fosse melhor fingir de cego. Bateu.
A porta abriu-se quase que imediatamente, ali estava ela, óculos escuros e camisola preta transparente, sem sutiã e sem calcinhas, mesmo na contra luz ele pode adivinhar-lhe os mamilos e o farto gramado pubiano.
- Oi!
- Oi
- Entra…
Ela o levou para o quarto, tirou-lhe a roupa, desfez-se da camisola, e deitaram-se…Aquilo não foi sexo, foi transe; ele estava revivendo suas melhores experiências, todas de uma vez, sem que falasse uma palavra, ela satisfazia seus desejos, mesmo os mais íntimos, as fantasias mais secretas, todas foram satisfeitas naquela noite.
Acordou leve, feliz! Olhou-a e pediu:
- Tire os óculos…
- Não!
- Por favor…
- Não posso!
- Por quê? Deixe-me ver seus olhos…
- Não! Não!
Rápido ele arrancou-lhe os óculos e olhou, não sentiu absolutamente nada, os olhos dela eram simplesmente normais, nenhuma deformação, nada! Eram lindos olhos negros, negros e profundos… Escuros…Escuros…
A porta do prédio abriu-se, Lauro saiu com sua bengala branca!

10 comentários:

Anônimo disse...

Puxa, Dilermano, que crônica interessante...
Gostei muito!
Especialmente do final...

Obrigada pelas felicitações de aniversário!
Adorei!
beijos!

Anônimo disse...

Bahh

me caiu os butia do bolso..heheheh

Massa Dady, B

Bjsss

Anônimo disse...

Dilermano,
O seu melhor conto que já li. E com um final-surpresa que fecha com chave de ouro (releve o clichê) e revela a perversão daquela bela e doente mulher. Um abraço.

Anônimo disse...

Somos todos cegos, acredito eu porque vemos sempre as mesmas coisas e juramos que vemos coisas diferentes. rs
Tenha um excelente dia carissimo

Max Coutinho disse...

Olá Diler!

Sim, senhor...que conto fantástico!

Diz-me, os homens ficavam cegos pela luxúria no olhar dela; ou ficavam cegos ao olhar nos olhos dela (porque os seus olhos reflectiam a verdade sobre o lado mais escuro deles mesmos)?

Muito bom, mesmo! Parabéns!!

Um abraço

Anônimo disse...

Caro Dilermano,
Deixei um comentário há uns 3 dias e não saiu. Vamos ver se este dá certo. O seu conto é o melhor que já li, com um final-surpresa, mostrando o lado pervertido daquela linda mulher. Um abraço.

Tatiane R. disse...

Gostei muito. A estética na escrita foi muito boa o final melhor ainda...será que subiria se soubesse que a morena tem seus encantos tão devastadores?
Ana Laura

Anônimo disse...

Dilermano, é conto ou crônica? Eu pensei que fosse uma crônica. Passando pra te desejar um ótimo "fimdi". Beijão!

Dalva Nascimento disse...

Oi, Diler!

Interessante este conto, meu amigo, afinal a paixão nos cego, mesmo...

Bjs.

César Elias disse...

buenaço o texto... parabéns
terminei de ler e reli pra ver se descobria algo mais nas entrelinhas! :)
abraçao