quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A Outra

A Outra já foi publicado lá no blog na Bel, QUER LER? EU DEIXO!     Contos são como filhos, sempre voltam à casa, assim é justo que também faça sua aparição aqui no ARTeiro.




“Ele trouxe uma menina nova para morar aqui.” Disse Julia, em tom choroso, enquanto acabava de trocar-lhe as fraldas e saía rumo à porta.

- Agora você é a dona da casa. Respondeu com cinismo.

Finalmente teria sua vingança, Julia tomaria seu lugar, não seria mais a mulher só dos lençóis, teria que levantar cedo, cuidar da casa, criar o cardápio, lavar roupas, fazer faxina, administrar os parcos recursos que o marido liberava para as despesas, fazer milagres e ainda ouvir reclamações.

Tinha vivido resignada com seu destino, criara tres filhos, seus dois, mais o de Julia, nunca passou por sua cabeça a idéia de dar um basta, abandonar o marido, a vida que levava, tudo! Não… Isso não era para ela, viera da casa do pai para a do marido, quase como um utensílio, fazia parte daquela casa tanto quanto o fogão, a mesa ou o sofá da sala.

Os três moravam na mesma casa havia já mais de quinze anos, por sugestão do marido acolhera Julia, que tinha sido expulsa da casa dos pais, por estar grávida. Inocente, gostou da idéia, afinal teria companhia e alguém para ajudá-la no serviço da casa, o tempo mostrou-lhe o engano: Era do marido o filho que a Julia esperava! Descoberta a verdade ela jamais voltou a promunciar-lhe o nome; passou a chamá-la simplesmente “Outra”, esse foi seu único protesto, restando-lhe as noites de insônia, sempre que o marido esgueirava-se para o quarto da Outra.

Mais de quinze anos de humilhações e sofrimentos, estavam finalmente acabando, Ela estava para morrer; “os médicos deram alta, pra morrer em casa…Não tem volta…” Escutara o marido falar baixinho com a Outra.

.Fora, sem dúvidas, uma vida miserável, mas era doce a vingança, agora tinha a Outra como governanta, cozinheira, copeira, arrumadeira, faxineira, e ainda enfermeira, limpando sua urina e suas fezes, até esquecia as dores e a morte próxima.

Antes que Júlia passasse pela porta, gritou:

Outra! Vazei de novo!


Créditos:
Imagem e texto:
Dilermartins


Ps: Premiado em  1º Lugar

5 comentários:

Anônimo disse...

Hahahaha, seria cômico se não fosse trágico, hahahaha.
Pobre outra, depois de 15 anos ter que servir de enfermeira a limpar urina e fezes. Realmente, não deve ser a melhor das coisas a se fazer.
Que belo conto! Muito bem escrito e nos instiga a querer chegar no final.
Muito bom!

Beijos, Diler.

PS: Sobre o meu post, adorei a história do bêbado, que de parvo, não tinha nada, rsrsrs.

jose jaime disse...

Doce vingança!...
Abraços
José Jaime

chica disse...

Que situação! Belo conto esse e a OUTRA teve que pagar o que havia feito...abração,tudo de bom,chica

Dalva Nascimento disse...

E as voltas que vida dá... repete-se e completa-se o ciclo.

Bjs.

Luci disse...

ótimo conto.
bom carnaval ai, Dil!
bjs